sábado, 1 de dezembro de 2012

O mar de Arembepe


E vejo da sacada
ondas, arrecifes, imensidão...
Vento forte que sopra e traz,
com a maresia da madrugada,
um cheiro de infância
um gosto de saudade
um ar de solidão.

Insone, vejo a noite passar
e o ir-e-vir do mar
vai-e-vem em mim
um jeito de tristeza...

 (Em Arembepe. Madrugada do dia 19 de novembro)

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Confissão


Um dia me dirás
ao pé do ouvido
num murmúrio calado,
sentido,
doído,
o quanto foi difícil acordar
com os pés na Terra
depois que te fiz sonhar
o Infinito!

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Indiferente



Não quero de você
nem luzes, nem luares
- nada me dês:
já não quero teu sorriso,
teu olhar ou
teu vazio.
Quero que te vás
como viestes:
de repente
sem aviso,
sem explicação.

Nada quero de você
senão que leve,
consigo,
esse beijo não trocado
essa caricia não sentida
essa minha (in)diferença.

Quero que te vás!
Pois inda há,
nos céus,
Luzes e Luares!


(Lendo "Coisas simples", de Luz, em http://luzeseluares.blogspot.com.br/2012/10/da-me-lua-tira-do-imenso-e-coloca-na.html)

Sonhar você



Minhas pálpebras cansadas
de sonharem você
abraçaram a madrugada
com afã adolescente.
Sinto-te léguas distante
mas meu peito palpita seu cheiro
numa fagulha desse desejar intenso
que atinge as lonjuras
da ilusão
e me deixa aqui
com os pés no firmamento
e os ouvidos perdidos
órfãos da sua voz
ao som da madruga
(silêncio).

E as pálpebras me dizem,
agora,
já ser tempo de voltar ao leito
e sonhar você.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Amor ingênuo



É bom sentir-se ingenuamente amado
Quando só existem dúvidas e senões
Amores que vão e vêm, como balões
Soltos ao ar em dia de festa!

É bom festejar, assim, o amor ingênuo
E os aromas de lavanda que ele encerra
Olhares e jeitos que deitam sobre a terra
Um novo verdecer, no verdor da primavera.

Sente-se prenhe de ingenuidade, esse amor
Que sonha mil sonhos de desejos
Tão puros e insensatos de sonhar.

E ama esse amar ingenuamente
Ainda que impuro se revele como a gente
Mas amar é sempre bom – e vale o amar!


(Lendo "Sou feliz", de Luz, em http://afetosecumplicidades.blogspot.com.br/2012/10/sou-feliz.html#comment-form)

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Desejo de viver




Desejo ver você sorrindo
como antes
- Alegre, possessiva, carente
que sua voz seja água
para minha sede
e seu calor seja cobertor
pro meu corpo quente.

Desejo ver você espontânea
com fogo no olhar e
pimenta no cheiro.
E cheia de vontade
assim ardente,
inconsequente.

Desejo ver você... você!
Por que se esconder assim,
nessa tristeza?
Vem!
E aparece plena,
Desejosa
Sedenta.

Vem que desejo,
de novo,
Viver!

domingo, 4 de novembro de 2012

Patience




Pouco importa o seu silêncio
os não-olhares,
os não-jeitos,
os não-ditos.
Patience!
A vida vai se revelando
assim mesmo,
a mesma e diversa
para além do esquecimento,
do não-silêncio,
do não-você.

E assim você me ensina
por entre não-olhares
e esses não-sorrisos
de menina
a ter mais que desejos.
 

Patience!

sábado, 3 de novembro de 2012

Rendição




Diante do seu querer
Não há corpo fechado
Terço ou patuá.
Pra que chave,
Corrente ou
Cadeado?
Não tem despacho
Nem ebó
Nem alho, cebola ou feitiço
Amuleto, embira ou cipó!

Diante do seu querer
Não há outro
Senão um jeito:
Ser seu!

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O que fazer?

 

O que não faria eu
assim tão longe
assim tão triste
por um abraço seu?
E deixar meu cheiro
no seu corpo,
nos seus poros,
no seu beijo.
E o meu desejo
no seu querer
assim tão súbito,
assim tão louco,
assim tão público,
assim tão seu.

O que não faria eu
assim agora,
assim não-eu,
pra ser só seu?

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O SEU QUERER


Quero deixar meu cheiro
em você
no calor dos seus braços
na magia do seu ventre
aconchego do seu querer.
 
Quero arder na loucura insone
desse desejar possessivo
que me prende as ideias
e me rouba os (não)sentidos
e me quer assim,
só seu,
no território do seu querer.

Quero que me leve contigo
- mas leve agora!
Que nunca seja tarde
e não haja hora,
que nada seja barreira
para a imensidão do seu querer.

Quero ser assim, só seu
- cheiro, loucura e lassidão
pleno de saudade e desejo
no universo nada democrático
do seu querer.

Quero o seu querer...

sábado, 12 de maio de 2012

Quando volto




É sempre assim
quando volto pra você:
meus olhos te procuram,
te encontram,
se entregam.


11. 05.12
Saindo de Paulo Afonso, voltando pra você!

sábado, 19 de novembro de 2011

Quinta do Morgado



Desde a quarta-feira da semana anterior, Felisberto não esquecia o encontro que teve.

Tinha sido com uma pequena que ele filmava há algum tempo e que prometia uma cama daquelas!

Encontraram-se, entenderam-se, entretiveram-se... Ela deu condição e ele, que não é bobo nem nada, não perdeu a oportunidade de conferir e atestar por si mesmo.

A noite se estendeu, as brincadeiras foram muitas. Contudo, Felisberto sentia que algo inibia aquela pequena que pequena se conservava, sem se agigantar o suficiente diante de seu desejo. Mesmo assim, se sentiu empolgado!

A um dado momento, ela comentou que gostava de beber um vinho doce e suave que uma sua amiga lhe apresentou: Quinta do Morgado! “Quando bebia”, dizia ela, “ficava mais solta...”

O dia amanheceu e cada um seguiu o seu caminho. Marcaram de se ver na próxima semana, dessa vez na sexta.

Lembrando-se disso, Felisberto se dava conta de que já era sexta. Era o dia do reencontro.


* * *


Era, já, tarde da sexta-feira, quando Felisberto recordou a história do vinho. Estava com dois amigos, depois do almoço, e um deles resolveu entrar num supermercado para comprar queijo fatiado e um saco de pão.

Pensou no encontro da noite e em como queria ver aquela pequena mais leve, mais solta, mais à vontade... Resolveu comprar o vinho.

Foi à prateleira e identificou: custava seis e noventa. Quando o viram com a garrafa na mão, seus amigos quiseram saber para que seria e ele, disfarçando o real motivo, apenas disse que era “um vinho que sua paquera gostava...”

Os amigos, então, tentaram convencê-lo a levar outro, de melhor qualidade, um vinho mais caro para uma ocasião cara! Felisberto pensou, pensou, pensou... Os amigos indicaram uma garrafa de vinte e dois e cinqüenta, outra de trinta e três, uma outra de quarenta e cinco e oitenta e três.

- Mas ela disse que gostava desse, Quinta do Morgado! – argumentou para os amigos, que deixaram que ele levasse o vinho mais barato, mas não sem o acusarem de pão-durismo.

Felisberto levou a garrafa e colocou no congelador. Eram cinco da tarde e o encontro estava programado para oito da noite.


* * *

Encontraram-se no hotel, Felisberto e a pequena, naquela noite.

Era Lua Cheia!

Conversaram, riram de fatos curiosos, de pessoas curiosas, de vontades curiosas...

Ela, novamente, deu condição e ele se deixou condicionar. Apresentou o vinho, que foi recebido com um sorriso e um copo na mão.

Beberam a garrafa inteira e ele, esperançoso, esperava que seu efeito fosse sentido por debaixo dos lençóis... e passou toda a madrugada esperando que ela se fizesse mais leve, mais solta, mais à vontade... e ela não se fez!

Amanheceu. Cada um seguiu, novamente, o seu caminho.


* * *


A semana seguinte lhe trouxe uma surpresa: ao andar pela rua, viu aquela pequena caminhando de mãos dadas com um certo rapaz, completamente enamorados! “Mas ela disse que estava solteira”, pensou Felisberto.

Cruzaram olhares. Ela, sem revelar qualquer constrangimento, o cumprimentou e seguiu seus passos, como se nada tivesse acontecido.

Ele, que até se encontrava empolgado com as possibilidades que aquela pequena lhe acenava, continuou andando, não sem um certo estranhamento, mas intimamente aliviado porque, até então, apenas lhe havia dedicado algumas noites de boa cama e uma garrafa de vinho.

Sim, o vinho! Lembrou-se, novamente, da história do vinho e do baixo rendimento que ele deu, na última noite. Lembrou-se da insistência dos amigos em levar algo melhor e concluiu, de si para consigo mesmo:

- Inda bem que comprei a garrafa mais barata!


(Em 03 de novembro de 2011)

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Entre Heiddeger, Drumond e Cerqueira



Compartilho, contigo, esta lágrima doída
Que me vem com os sopros da vida
E me lança num poço sem fim.

E um nada é o que me sinto – me transmudo
E em silêncio é que me deixo – fico mudo
Mil distâncias latejam em mim.

Se acaso me chamasse Raimundo
Sairia da rima, encontraria solução;
Mas não passo de um ser-no-mundo
A clamar mil cuidados, atenção.

Mas inda tenho, da vida, estes versos pobres
Que me vêm na garganta, desatando nós;
E ainda tenho, de ti, tua compreensão,
Já que nada é de pedra entre nós.


11.10.11
Lendo “Soneto da compreensão”, de Rodolfo Pamplona Filho.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Com a brisa da manhã



Vagueou os olhos ao redor de si, tentando localizar-se no espaço do quarto frio que aquela manhã mergulhava em suave brisa.

Tentava organizar os pensamentos, sacudidos pelas poucas horas de sono e pelas outras tantas, intensas, vividas na noite anterior.

Ainda tinha dúvidas sobre os fatos. Teria sonhado? Teria vivido? Teria vivido um sonho? Teria sonhado uma vida? Descobrira-se vivo, novamente! E descobrira-se novamente viva a sua capacidade de sentir-se vivo e proporcionar vida!

Lembrou-se do brilho de um certo olhar... daquele olhar que o encantara... e enfeitiçara... e seduzira... Daquele olhar que o arrebatara da morte para uma nova vida.

Parecia-lhe sentir aquele olhar e aquele brilho nos próprios olhos, tão intensamente quanto sentira, na noite passada, o calor e o sabor daquele corpo.

E sob o impacto dessas lembranças, ao buscar organizar os pensamentos embalados pela brisa fria da manhã que invadia o quarto, pela janela, a lembrar que o dia recomeçava e outra hora surgia, ouviu o barulhar do celular, a meia distância, a dizer que um torpedo chegava, juntamente com a brisa da manhã.

Sentiu, novamente, o brilho daquele olhar nos próprios olhos, quando leu a mensagem recebida da dona daquele olhar:

- Meu momento ao seu lado foi simplesmente sublime! A mais bela palavra ainda não conseguiria traçar a ideia de quão transcendente foi o encontro dos nossos corpos, nos nossos olhos, das nossas carnes, dos nossos seres...

Sentiu faltar o ar nos seus pulmões... e sentiu bater o coração dentro do peito.

“Sim, estava novamente vivo!”, pensou...

... e sentiu nascerem eternidades dentro de si!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Mal-amar, mau-amor


E existe mal-amar?
E existe mau-amor?
Amar é sempre bem-amar!
Amor é sempre bom-amor!
Tudo que saia disso não é amar
Tudo que não seja isso não é amor
Um mal-amado é sempre um não-amado
Um mau-amor é sempre um não-amor
E não ser amado
E não ser amor
É simplesmente não-ser:
Não-vida, não-viver...

(Lendo "Disse o sábio", de Mariane Magno, in http://complexospensamentos.blogspot.com/2011/09/felizes-ao-que-sabem-amar.html)