sábado, 19 de novembro de 2011

Quinta do Morgado



Desde a quarta-feira da semana anterior, Felisberto não esquecia o encontro que teve.

Tinha sido com uma pequena que ele filmava há algum tempo e que prometia uma cama daquelas!

Encontraram-se, entenderam-se, entretiveram-se... Ela deu condição e ele, que não é bobo nem nada, não perdeu a oportunidade de conferir e atestar por si mesmo.

A noite se estendeu, as brincadeiras foram muitas. Contudo, Felisberto sentia que algo inibia aquela pequena que pequena se conservava, sem se agigantar o suficiente diante de seu desejo. Mesmo assim, se sentiu empolgado!

A um dado momento, ela comentou que gostava de beber um vinho doce e suave que uma sua amiga lhe apresentou: Quinta do Morgado! “Quando bebia”, dizia ela, “ficava mais solta...”

O dia amanheceu e cada um seguiu o seu caminho. Marcaram de se ver na próxima semana, dessa vez na sexta.

Lembrando-se disso, Felisberto se dava conta de que já era sexta. Era o dia do reencontro.


* * *


Era, já, tarde da sexta-feira, quando Felisberto recordou a história do vinho. Estava com dois amigos, depois do almoço, e um deles resolveu entrar num supermercado para comprar queijo fatiado e um saco de pão.

Pensou no encontro da noite e em como queria ver aquela pequena mais leve, mais solta, mais à vontade... Resolveu comprar o vinho.

Foi à prateleira e identificou: custava seis e noventa. Quando o viram com a garrafa na mão, seus amigos quiseram saber para que seria e ele, disfarçando o real motivo, apenas disse que era “um vinho que sua paquera gostava...”

Os amigos, então, tentaram convencê-lo a levar outro, de melhor qualidade, um vinho mais caro para uma ocasião cara! Felisberto pensou, pensou, pensou... Os amigos indicaram uma garrafa de vinte e dois e cinqüenta, outra de trinta e três, uma outra de quarenta e cinco e oitenta e três.

- Mas ela disse que gostava desse, Quinta do Morgado! – argumentou para os amigos, que deixaram que ele levasse o vinho mais barato, mas não sem o acusarem de pão-durismo.

Felisberto levou a garrafa e colocou no congelador. Eram cinco da tarde e o encontro estava programado para oito da noite.


* * *

Encontraram-se no hotel, Felisberto e a pequena, naquela noite.

Era Lua Cheia!

Conversaram, riram de fatos curiosos, de pessoas curiosas, de vontades curiosas...

Ela, novamente, deu condição e ele se deixou condicionar. Apresentou o vinho, que foi recebido com um sorriso e um copo na mão.

Beberam a garrafa inteira e ele, esperançoso, esperava que seu efeito fosse sentido por debaixo dos lençóis... e passou toda a madrugada esperando que ela se fizesse mais leve, mais solta, mais à vontade... e ela não se fez!

Amanheceu. Cada um seguiu, novamente, o seu caminho.


* * *


A semana seguinte lhe trouxe uma surpresa: ao andar pela rua, viu aquela pequena caminhando de mãos dadas com um certo rapaz, completamente enamorados! “Mas ela disse que estava solteira”, pensou Felisberto.

Cruzaram olhares. Ela, sem revelar qualquer constrangimento, o cumprimentou e seguiu seus passos, como se nada tivesse acontecido.

Ele, que até se encontrava empolgado com as possibilidades que aquela pequena lhe acenava, continuou andando, não sem um certo estranhamento, mas intimamente aliviado porque, até então, apenas lhe havia dedicado algumas noites de boa cama e uma garrafa de vinho.

Sim, o vinho! Lembrou-se, novamente, da história do vinho e do baixo rendimento que ele deu, na última noite. Lembrou-se da insistência dos amigos em levar algo melhor e concluiu, de si para consigo mesmo:

- Inda bem que comprei a garrafa mais barata!


(Em 03 de novembro de 2011)

2 comentários:

SOLANGE MEINKING disse...

Feliz de Felisberto ter visto logo que a garota fazia jus ao vinho "Quinta do Morgado", como é de "Quinta categoria" ela se deixou aparecer como o esmalte que solta da mão da moça da foto que ilustra conto.
Felicidades Felisberto, Felicidaes!

Ludmilla Mattos Pinheiro de Souza disse...

oi milinho!!! mudei de site!!! me visite moço!!! http://www.fadamilla.blogspot.com/
beijos prof!